Ir ao cinema, assistir a uma peça de teatro ou visitar uma exposição de arte em um museu são maneiras de os jovens estudarem para a prova de linguagem, uma das quatro áreas que vão compor o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para os dias 3 e 4 de outubro. A língua portuguesa, no exame, está inserida em um contexto mais amplo, que inclui outras linguagens: artística, corporal e digital. Em vez de cobrar apenas assuntos gramaticais, o novo teste exigirá do estudante leitura do mundo, visão crítica e entendimento da realidade. O idioma estará misturado à música, ao cinema, às artes e às novas tecnologias. É o que mostra a última reportagem da série sobre os novos conteúdos do Enem.
“O Enem é interdisciplinar, aspecto que não observamos no vestibular tradicional. Os estudantes vão perceber que a língua portuguesa não se restringe ao código linguístico. É mais ampla. Outras possibilidades de comunicação, com linguagem corporal ou digital, serão exigidas”, observa Glauce Dias, professora de português do Colégio Boa Viagem. “O jovem tem que estar antenado, saber fazer paralelismos, perceber a intenção dos discursos”, complementa a professora. Uma dica é intensificar leitura de reportagens, livros, sites.
Enquanto no vestibular das federais (UFPE, UFRPE e Univasf), até o ano passado, os feras respondiam somente 12 questões, no exame nacional serão entre 40 e 50 quesitos. A expectativa é que o conhecimento gramatical não seja cobrado diretamente com perguntas, por exemplo, sobre sujeito ou concordância verbal ou crase. Por meio de textos, esses detalhes do português estarão embutidos nos questionamentos.
As novas ferramentas de comunicação, como os blogs, e-mails, bate-papo, são também fonte de informação. No conteúdo divulgado pelo MEC para linguagem, há um tópico que trata do estudo dos gêneros digitais, tecnologia da comunicação, seus impactos e função social. “O objetivo do Enem é cada vez mais se aproximar do cotidiano dos jovens”, afirma Marcelo Bernardo, outro professor de português do Colégio Boa Viagem.
Em literatura, ao contrário do programa dos vestibulares pernambucanos, que indicavam escolas literárias, autores e obras para serem estudados, no Enem não há essa especificidade. A professora Glauce Dias considera negativo o MEC não apontar escritores e obras que ajudariam os feras a se preparar para o teste. “Como está, fica muito amplo”, diz. Marcelo Bernardo discorda. “Se indicasse escolas literárias e autores, o MEC estaria indo de encontro à proposta do Enem”, explica.
O professor, entretanto, diz que o aluno perde com o exame por causa dos regionalismos. “Os vestibulares daqui cobravam conhecimento de obras de Ascenso Ferreira, Ariano Suassuna, Raimundo Carrero. Com a prova nacional, isso deixa de existir. Esperamos que a segunda fase da UFPE compense um pouco essa ausência”, observa Marcelo Bernardo.
Pedro Cabral e Débora Madruga, ambos com 17 anos, alunos do Boa Viagem, gostam da ideia de misturar português com outras linguagens. Este mês, dramatizaram três poemas da poetisa recifense Suzette de Abreu e Lima. Na peça, dançaram um tango. “O aprendizado é maior quando o assunto extrapola a sala de aula”, comenta Pedro.
REDAÇÃO - Até o ano passado, os candidatos a uma vaga nas federais pernambucanas faziam a redação em dezembro. Agora terão que escrever o texto em outubro, no Enem. Enquanto na prova local eles escreviam pelo menos 20 linhas, no exame nacional a dissertação pode ter no mínimo sete linhas. “O ideal é que o vestibulando escreva pelo menos 15 ou 20 linhas. A composição da redação é a mesma: introdução, desenvolvimento e conclusão”, explica Marcelo Bernardo. No Enem, diz o professor, sempre há um texto motivador, que ajuda o fera a aflorar as ideias. “O estudante não pode, em hipótese alguma, transcrever parte do texto para a redação”, informa.
Tema da redação sempre faz parte do cotidiano e normalmente está associados à cidadania. Voto, violência urbana, meio ambiente foram alguns assuntos de exames passados. “O Enem estimula o protagonismo juvenil. Na redação, o fera deve se posicionar, sugerir intervenção para o problema apresentado. Portanto, ler reportagens, ver documentários e assistir a filmes vai ajudá-los na argumentação da dissertação”, destaca Marcelo Bernardo.
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Fora da língua natal ninguém respira amplamente - tudo o que existe vive da existência do verbo.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Muito além da gramática
o Jornal do Commercio
Redação: o ideal é que o vestibulando escreva pelo menos 15 ou 20 linhas
Foto: Arquivo
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